padres e limoncello à mesa do bar

Ok - eu me levanto enquanto seguro mesa e cadeira, bambas por conta do chão de paralelepípedo - prazer em conhecê-los - eu respondo da minha mesa, rodeada por outras mesas que se preparavam para dormir. Era tarde da noite, e eu já estava pronta para pagar pela taça de vinho branco e o potinho de tiramisù. 

Você aceita um limoncello? - um deles me pergunta, na esperança de manter mesas e toalhas despertas por mais alguns minutos. 

Eu não deveria beber mais do que uma taça de vinho - meus olhos voltados à taça vazia como se a conversa fosse com ela.

É só um shotzinho - eles disseram -  É bem docinho.

Hmmm... - um silêncio de expectativa no ar - Ok! Um limoncello!

Clap! - o garçom bate as mãos e desaparece em direção à cozinha para preparar uns shotzinhos bem docinhos.

Junte-se a nós - ele recolhe o casaco da cadeira, liberando o assento.

É quase meia-noite em Roma. Eu me sento àquela mesa coberta por uma toalha quadriculada, em uma rua apertada e curva, na companhia de dois alemães: um estudante de teologia à minha esquerda e um padre do outro lado da mesa.

Eu não sou padre... ainda - ele hesita, sua cabeça pendendo de um lado pro outro - mas estudo Teologia. O padre se inclina para frente e diz - Sabe quando ele vai virar padre? - seu rosto sério como um duro sermão - Quando padre puder casar! - Eles se encaram por três longos e intensos segundos, então explodem em uma gargalhada e - bam! - o padre bate o punho cerrado contra a mesa, fazendo copos tilintarem, e meu coração, quase saltar do peito.

Lá estava eu. Logo eu. Logo eu que sempre questionei a religião Católica. Logo eu que revirava os olhos para dentro do cérebro nas missas de Domingo. Logo eu que escondia estátuas de santos nas gavetas pelo medo de ser observada e julgada pela minha condição humana pecadora. Lá estava eu, rindo e levando sustos na companhia dos homens de Deus.

Um brinde! À noite mais inesperada dos últimos anos.