como eu deveria me sentir nesse lockdown?

O paraíso do meu confinamento se encontra nesses momentos de isolamento, que eu já necessitava antes mesmo do lockdown; que eu sempre necessitei. Aprecio ficar sozinha, lendo, escrevendo, vendo filmes e séries, estudando Francês. Tem dias que tudo o que eu quero é passar um café sozinha e tomá-lo com carinho, sentada à beira da minha janela, sentindo essa gentil brisa primaveril e escutar a conversa das árvores. Eu passaria dia após dia assim, e se eu pudesse fazer como Zeus, distenderia um dia em 72 horas, só para absorver o máximo desses momentos de solitude.
O que me preocupa quanto a minha saúde mental é ver tantos amigos e conhecidos angustiados pelo fato de não poderem interagir de corpo e alma com outros humanos, enquanto eu, em comparação, não sinto o mesmo. Eu divido apartamento com outras pessoas, mas francamente falando, não somos amigos, então não sinto a necessidade de trocar diálogos desnecessários, pois tudo o que quero é ficar sozinha. Encontro-me a uma distância oceânica das pessoas que mais amo e eu jamais estivera tão isolada como estou agora, e mesmo assim não sinto um desejo desesperador de socializar, e é isso o que me preocupa. Deveria eu estar marcando no calendário uma contagem regressiva para me sentar à mesa de um bar com outras pessoas?
Certamente esse lockdown tem feito meu inferno queimar, mas não pela falta de outras pessoas, e sim pela falta de explorar novos cafés, novas ruas, novas cidades, novos alvoreceres. Eu tenho um apetite insaciável por fotografar novas vistas com o piscar dos meus olhos, e o que mais me faria feliz neste exato momento seria a compra de um ticket de última hora para um-lugar-qualquer. E se eu pudesse levar alguém comigo, sabe quem seria? Ninguém.
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